GESTÃO: INSTITUTO TROPICAL

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Uma Biografia Clássica

do Pe. Antônio Vieira

 

1.  Enfim, temos à nossa disposição a grande biografia do P. Antônio Vieira, escrita por André de Barros. É um texto de muitos desejado e de poucos conhecido. Trata-se da primeira grande Biografia deste gigante de nossa cultura e “Imperador da Língua Portuguesa”. É uma obra de referência obrigatória.

Seu título: Vida do Apostólico P. Antônio Vieira.

         Foi publicada, em 1746, 67 anos depois da morte de Vieira. André de Barros pôde consultar fontes e testemunhas que logo desapareceram. Aliás, o biógrafo já notava o desaparecimento de muitos documentos. Apenas 13 (treze) anos após a publicação os jesuítas forma expulsos de Portugal e do Brasil. A obra teve pouca divulgação.

É pois um trabalho digno de memória que deveria estar na estante de todas as bibliotecas, ao lado de outros estudos e análises, com pesquisas mais recentes.

Aguarde a edição em brochura, já em preparação e em DVD.

2.        A publicação da célebre biografia do P. Antônio Vieira, elaborada pelo historiador André de Barros, foi uma das tarefas que nos propusemos, na celebração do 4º Centenário de nascimento do ilustre cidadão do mundo.

            Após longa pesquisa, localizamos um exemplar da obra, na “Biblioteca P. Antônio Vieira”, dos jesuítas de São Paulo, em julho de 2007.

            Logo, providenciamos a digitalização da obra e o tratamento da mesma para disponibilizar na INTERNET, colocando-a a serviço dos pesquisadores.

 

3.        A edição da versão em ortografia atual está sendo elaborada. A parte inicial, de Licenças Oficiais, já está vertida.

            A edição completa da obra, em ortografia atual, será publicada durante o ano de 2009, pela Editora EUROBRÁS, em parceria com outra editora a ser anunciada oportunamente.

            Este é, sem dúvida, um grande serviço que estamos prestando aos estudos vieirianos.

São Paulo, setembro de 2008

                                                                                        José Jorge Peralta

 

                                                      ANTÔNIO VIEIRA

TRAJETÓRIAS DE UM HOMEM PRODIGIOSO

 

I-      DIMENSÕES DE UMA OBRA PARADIGMÁTICA

 

1.        Antônio Vieira é o homem que deslumbrou o mundo com sua oratória densa, vibrante, audacioso e contundente. Sempre sentiu pairar em sua cabeça a força dos profetas... Usou sempre uma linguagem forte e firme, como um Cruzando empunhando a espada da Palavra que convence e decide.

            Bem merece a reedição da obra elaborada pelo grande historiador, André de Barros, “Vida do Apostólico P. Antônio Vieira”.

André de Barros considera Vieira de tão alta estatura moral e de tão excepcionais méritos que, logo após narrar a sua morte, redige um hino de glorificação onde lhe dirige enérgica apóstrofe:

“Sobe, ó coração forte, invicto e maior que o mundo,

 porque tua grandeza não cabia nele.

Enquanto houver homens te aclamará a fama.

Enquanto houver mundo se aclamará o teu nome”.

Nesta obra sentimos em Vieira uma pessoa de consciência cidadã, que quer contribuir para a construção de um mundo melhor, com mais justiça e bem-estar das pessoas.

Vemos Vieira atuando como semeador que semeia a Palavra, na sua missão de Sal da terra e Luz do mundo. Vieira teve intensa atuação no mundo de seu tempo, como pensador e filósofo, educador e como o grande e genial estrategista, político, diplomata, conselheiro de reis e rainhas.

Vemos atuando o genial orador,

 “aclamado no mundo por príncipe dos oradores evangélicos

 e pregador incomparável” (André de Barros)

         Vieira é comumente aclamado como grande orador e isto ele é;  mas este não é certamente o seu maior mérito. Foi excepcional em outros campos de atuação.

 

2.         Vemos o missionário levando a civilização, a saúde, o sentido da vida e o respeito mútuo, com a  luz do Evangelho, a mais de uma centena de nações indígenas, nas Missões do Grão Pará e Maranhão.

Vemos Vieira agindo com energia, coragem, ousadia e muita generosidade e altruísmo, em arriscadas missões pelas inóspitas florestas amazônicas. Aqui tudo, nesta área, estava por fazer,  aguardando  homens de grande competência  e ousadia, para  tão ampla  e árdua missão que é levar a esses povos bárbaros os benefícios da civilização cristã.

Lá vemos Vieira navegando infinitas léguas em frágeis canoas, com os índios, pelos igarapés do Marajó, pelo Tocantins, pelo Amazonas...

Lá o vemos embrenhando-se pela Serra de Ibiapaba, no Ceará, onde já tinha sido sacrificado  o P. Francisco Pinto, a golpes de tacape.

Lá o vemos caminhando léguas, descalço, por areias escaldantes e atravessando rios caudalosos, pelo litoral, do Rio Amazonas até o Ceará. Nesta façanha, ao pacificar os índios, abriu o espaço para a integração da Amazônia, pelo litoral ao resto do País.

Enfim, nas Missões do Grão Pará e do Maranhão, entre povos rudes, Vieira desempenhava sua ação humanizadora, com a mesma desenvoltura e coragem que tinha demonstrado nas cortes da Europa, em Portugal, França, Inglaterra e Itália.

Para entendermos as dificuldades desta missão e a visão construtiva de Vieira, recomenda-se a leitura do “Sermão do Espírito Santo” onde está a alegoria do estatuário.

 

3.        Na Europa, Vieira arguia os poderosos que dilapidavam o dinheiro público, em prejuízo do povo que pagava impostos. Defendia os cristãos novos e os judeus que se viam perseguidos e espoliados de seus bens.

Nas Missões do Grão Pará e Maranhão, do alto dos púlpitos das igrejas de São Luis do Maranhão e em Belém do Pará, e até em debates em Câmaras Municipais, fazia defesa dos índios contra a ganância dos colonos que queriam explorar a força escrava dos índios, sem respeito aos seus direitos à liberdade e à vida familiar.

Na Bahia, Vieira catequizou e defendeu índios e negros escravos. Aprendeu a língua dos índios e também a língua dos negros...

Na Bahia, no Grão Pará e  Maranhão,Vieira fez um trabalho missionário ainda mais amplo, denso e difícil do que a ação intensa de  Paulo de Tarso, o Apóstolo dos gentios.

Pelas selvas, pelos rios e pelo mar, de canoa ou a pé, de pés descalços, ou em navios, andou maiores percursos e falou a muito mais gente do que São Paulo.

Os Sermões de Vieira têm a veemência, ousadia e sabedoria, equiparada à de São Paulo.

 

II – AÇÃO PRODIGIOSA DE VIEIRA

-VIEIRA E PAULO DE TARSO-

 

4.        O P. Antônio Vieira foi o homem e apóstolo que levou a luz civilizadora do Evangelho a mais povos, a mais pessoas e em mais amplos territórios de toda a história  do Cristianismo. Não porque outros fizeram pouco; apenas dizemos que Vieira fez mais um trabalho de dimensões quase inacreditáveis.

Não consigo ver nesta minha afirmação nada de temerário.

            A dimensão descomunal de sua ação civilizadora e missionária justifica a moral e a força que o levou a proferir o Sermão da Epifania, o Sermão da Sexagésima, entre outros de uma energia e contundência e veemência quase inacreditáveis.

            A força evangélica que ardia em sua alma, em sua inteligência e em seu coração justifica sua audácia,  ao apostrofar  Cristo e o Pai, como conselheiro  da Corte Celeste, com uma veemência inaudita, em púlpito cristão. Veja o Sermão das Armas de Portugal contra as da Holanda.(1640).

 

5.        Os Cristãos estão, em 2008-2009, celebrando o 20º Centenário de Paulo, o Apóstolo. Celebramos também o 4º Centenário de Vieira...

Um paralelo entre Paulo de Tarso e Vieira considero-o como uma aproximação e reflexão oportuna e justa. Diria que Vieira é o São Paulo dos tempos modernos.

Os dois foram, certamente, os maiores difusores do Evangelho da História, ao lado de uma plêiade imensa de grandes evangelizadores e civilizadores cristãos, comprometidos com o bem comum.

Entre os mais altos evangelizadores, contam-se, sem dúvida, Nóbrega, Anchieta, no Brasil, e Francisco Xavier, no Oriente.

O paralelo, entre Vieira e São Paulo já o fez o Arcebispo de Braga, D. Luis de Sousa, contemporâneo de Vieira,  ao afirmar:

Pregador, ou S. Paulo ou Vieira

            Seria muito útil alguns pesquisadores fazerem um levantamento das pessoas que, através da história, fizeram mais ampla missão civilizacional e evangelizadora, onde não poderiam faltar São Paulo e Vieira.

            Por exigência da Inquisição, Vieira fez um longo relatório de sua atuação. Aí nos legou o seu perfil. Pode ser consultado no websítio: www.veira400anos.com.br/perfil.

 

6.        Vieira, enfim, foi um homem que, nos seus 90 (noventa) anos de vida, ergueu uma obra descomunal, uma obra gigantesca que legou à posteridade.

Em vida, Vieira, foi admirado e exaltado por Papas, por Cardiais, por Bispos, Reis, Rainhas e  Ministros. Foi venerado pelo Povo, que acorria todo para ouvi-lo; pelos perseguidos de seu tempo, judeus, cristãos novos, índios do Brasil e negros africanos e seus descendentes a quem defendia com generosidade, solidariedade e ousadia.

Como costuma acontecer aos grandes gigantes da fé, das artes e da justiça, Vieira também foi maltratado, injuriado, caluniado,  e até preso. Sofreu muito, mas com sabedoria e dignidade.

Foi um grande exemplo de resignação, abnegação e tolerância, mesmo quando “amordaçado”, na prisão pela Inquisição. Sempre manteve a cabeça erguida, mesmo nos momentos mais dramáticos.

Sofreu e encarou a adversidade com  muita grandeza  de espírito, com muita altivez. Nunca se apequenou.

Como os grandes heróis e mártires, jamais arredou pé de sua Missão, não fugindo nunca das dificuldades. Antes sempre enfrentou, com coragem e ousadia, a prepotência dos poderosos, que, no seu tempo, como sempre, acham que tudo podem, contra os desvalidos e excluídos da sociedade, qualquer que seja a causa.

Vieira foi sempre um paladino da justiça, da liberdade e da dignidade humana. Foi precursor de uma luta cerrada pelos Direitos Humanos que só teria equivalência no século XX.

Vieira foi um homem prodigioso em toda a sua vida e em toda a sua obra.

Antônio Vieira é, sem dúvida, um grande arauto da Fé, do Humanismo e da Dignidade Humana, mesmo no tempo em que o assunto era vetado...

Deve portanto ser tratado por todos, cristãos e não cristãos, como um homem venerável, como herói exemplar e como um santo do mais alto quilate; tão alto que muitos não conseguem aquilatar a grandeza descomunal deste homem que há muito se libertou da lei da morte, por suas obras extraordinárias a serviço de seu povo, da humanidade e do Evangelho.

Muitos dão mais atenção aos seu detratores e injuriadores do que a ele mesmo?!! É inacreditável com “os filhos das trevas  são mais ágeis que os filhos da luz”.

A leitura  dos Sermões de Santo Antônio, pregados em Roma (1670/1671) podem ajudar a entender esta questão...

 

7.        É deste homem que nos fala André de Barros, no livro “Vida do Apostólico P. Antônio Vieira”, publicada em 1746,  67 anos após a morte de Vieira e apenas 13 anos antes da expulsão dos jesuítas, pelo Marquês de Pombal, que urdiu uma sórdida campanha contra a pessoa e obra do grande jesuíta - Vieira.

André de Barros introduz a sua célebre biografia numa frase candente, onde demonstra toda  a veneração que tinha pelo Paiassú (Pai Grande) – como os índios apelidaram Vieira:

“Proponho ao mundo um dos maiores homens de Portugal e propondo a Portugal o maior homem que, em muitas idades, ele deu ao mundo.

O Padre Antônio Vieira, glória de nossa Nação, inveja das estranhas, lustre imortal da Companhia de Jesus, a pátria lhe deu o título de Grande; o mundo todo o admirou ainda maior e será seu nome  em todos os séculos ocupação da fama.

Detiveram-se até agora os ânimos, e temerão as penas desta escritura; ou medrosos da variedade dos sucessos, ou da grandeza do sujeito. Julgarão que só o silêncio era o maior brado do imortal VIEIRA ...”

(in Vida do Apostólico P. Antônio Vieira, Livro I – Exórdio)

 

8.        Logo após a publicação deste livro surgiu a campanha sórdida de Pombal e seus asseclas contra Vieira e a Companhia de Jesus. Os jesuítas foram expulsos e perderam tudo o que tinham. A biografia escrita por André de Barros não teve a divulgação esperada por falta de tempo e pela tragédia que se abateu sobre os jesuítas. E também pelas perseguições e injúrias que muitos repetem, até hoje, por desinformação.

A perseguição do governo de Pombal consolidou-se por muitos anos. Foi bem articulada e os jesuítas intencionalmente foram satanizados por toda a poderosa máquina estatal.

Enfim, depois de 250 anos, colocamos esta obra  nas mãos dos leitores e dos pesquisadores . É uma obra que ainda tem  muito a dizer a seus leitores.

 

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